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Comércio de drogas volta a ser rotina na Cracolândia de SP

Publicada em: 13/06/2017 12:31 - Noticias

SÃO PAULO — “Tá esquentando? Tá alisando aqui, ó?” Diante de uma tomada em um dos abrigos para usuários de crack no Centro de São Paulo, uma mulher tentava fazer funcionar uma chapinha. Passava o objeto pelos cabelos cacheados com ansiedade. Não era um arroubo de vaidade.

— Eu encontrei no lixo. Se estiver funcionado, vou vender na praça — dizia ela, admitindo ser dependente da pedra.


A chapinha da mulher se juntaria, na tarde de ontem, a um universo de quinquilharias trocadas e vendidas, na Praça Princesa Isabel, por centenas de pessoas que participavam de um discreto comércio de crack. No último domingo, a prefeitura da capital e o governo estadual chegaram a expulsar da área o chamado “fluxo”. Policiais e guardas destruíram barracas de lona que, segundo as gestões, acobertariam o tráfico. Um dia depois da ação, o espaço estava novamente tomado pela multidão e os traficantes demonstravam que o abrigo das tendas não era fundamental para o sucesso de seu negócio ilícito.

— O complicado é que eles vêm, fazem todo esse show, e depois já está tudo de volta. O traficante e o usuário são quase inseparáveis, porque o usuário precisa da droga a todo instante, o fornecimento tem que ser contínuo, no caso do crack. O simples fato de haver uma nova concentração demonstra que a abstinência não está sendo alcançada — afirmou uma das assistentes sociais que atua na área.

A prefeitura afirmou que, graças à operação, realizou 53 internações voluntárias apenas no último domingo. Recém-empossado coordenador do programa municipal Redenção, que tem a missão de acabar com a Cracolândia, o psiquiatra Arthur Guerra admite os desafios do plano. Guerra só foi convidado para o posto uma semana depois da primeira operação policial na área, em maio, e após a prefeitura tentar autorização judicial para facilitar a internação compulsória de usuários.


— Peguei o bonde totalmente andando. Por isso não quero falar das coisas do passado. Qualquer coisa que eu disser agora sobre o que foi feito antes, o prefeito pode me dizer: ‘mas, campeão, o senhor não estava aqui, como pode avaliar algo que desconhecia?’ — afirmou Guerra ao GLOBO.

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— Estamos revisando essa ideia, dentro de um canal de bom senso. Como foi feito, deu a impressão errônea de que o policial ia fazer a internação. Isso nunca foi pensado. Quando a gente faz as coisas com um pouquinho de pressa e se espera soluções milagrosas, isso acontece. Mas, se a prefeitura reapresentar isso, vai reapresentar de uma forma mais bem formulada.

Guerra disse ainda que irá utilizar a experiência de redução de danos dos agentes públicos que tocavam o “De Braços Abertos”, programa da gestão petista que Doria prometeu abolir durante a campanha. Mas assegurou que o foco do trabalho será na abstinência dos usuários.




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